Notícias

Que sectores estão a ‘roubar’ trabalhadores ao turismo?

Que sectores estão a ‘roubar’ trabalhadores ao turismo?

Portugal - O emprego está em máximos, mas o turismo tem menos 61,2 mil postos de trabalho do que antes da pandemia

12.08.2022 | Por Sónia M. Lourenço


  PARTILHAR



A forte recuperação do turismo — que espera ultrapassar este verão o patamar de 2019 — está a puxar pelo crescimento da economia portuguesa este ano, mas em termos de emprego o sector  continua mais de 60 mil postos de trabalho abaixo do que registava antes da crise pandémica. Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativos ao segundo trimestre mostram que o emprego total no país está acima do mesmo período de 2019, e no nível mais elevado desde 2011. Com a taxa de desemprego em mínimos, a competição por trabalhadores pode ser feroz. E o  turismo parece estar a perder o jogo para sectores como as atividades de informação e de comunicação, a Administração Pública, a saúde, o apoio social, ou a educação,
que contam muitos milhares de empregos a mais face a 2019. 

A guerra na Ucrânia, a escalada da inflação, a subida dos juros e a travagem da economia portuguesa não parecem ter feito mossa no mercado de trabalho nacional. No segundo trimestre, a taxa de desemprego recuou para 5,7%, valor inferior em 0,2 pontos percentuais (p.p.) ao dos primeiros três meses deste ano e 1 p.p. abaixo do segundo trimestre de 2021. 

Mais ainda, é o valor mais baixo em Portugal desde, pelo menos, 2011, ano em que começa a atual série de dados do INE. Apenas no segundo trimestre de 2020 se registou precisamente esse valor, mas os dados são distorcidos pelo primeiro confinamento geral do país para travar a pandemia de covid-19. 

Os dados mensais publicados pelo INE apontavam para uma ligeira subida da taxa de desemprego entre abril e junho, de 5,9% para 6,1%. Contudo, são ajustados do impacto da sazonalidade, o que não acontece nos dados trimestrais. Uma diferença que ajuda a explicar porque os números agora publicados são inferiores: a sazonalidade joga tradicionalmente a favor do mercado de trabalho  português no segundo trimestre de cada ano, por causa das contratações para a época alta do turismo e da agricultura.

O INE estima em 298,8 mil as pessoas desempregadas em Portugal no segundo trimestre. Mais uma vez, é o valor mais baixo desde pelo menos 2011, com exceção do segundo trimestre de 2020. Contudo, 50,9% da população desempregada encontrava-se nesta condição há 12 ou mais meses, ou seja, eram desempregados de longa duração. Um valor superior em 4,7 p.p. ao dos primeiros três meses do ano e em 6,2 p.p. ao do segundo trimestre de 2021.

Os mínimos no desemprego são acompanhados por máximos no emprego. O número de pessoas com trabalho atingiu 4,9018 milhões, segundo o INE. Apesar de se manter quase inalterado face aos primeiros três meses do ano — o incremento não chega a um milhar —, o aumento em termos homólogos foi de 1,9% (mais 91,3 mil pessoas). Acresce que, além de já ter superado o patamar pré-crise, de 2019, o número de pessoas com trabalho em Portugal no segundo trimestre deste ano foi o mais elevado no país desde pelo menos 2011.

Diferenças sectoriais

Há, contudo, realidades muito diferentes entre os vários sectores de atividade. Destaque, negativo, para o turismo. No segundo trimestre, o emprego na hotelaria, restauração e similares — que corresponde, grosso modo, ao sector turístico — ficou 61,2 mil postos de trabalho abaixo do mesmo período de 2019, ano de recordes no turismo em Portugal, indicam os dados do INE. Isto apesar de ter ganho 11,7 mil empregos face ao segundo trimestre do ano passado.

Os patrões do sector têm vindo a manifestar preocupação com a falta de mão de obra sentida pelas empresas, com a Confederação do Turismo de Portugal (CTP) a defender a contratação de estrangeiros, nomeadamente provenientes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), para ajudar a ultrapassar o problema. Saudaram, por isso, o novo regime jurídico de entrada e permanência de estrangeiros em território nacional. Ao mesmo tempo, no início de agosto, a secretária de Estado do Turismo estimou que Portugal precisa de 45 mil a 50 mil trabalhadores  adicionais no turismo. Um número que colocaria o emprego no sector perto do patamar onde se encontrava em 2019.

Para onde foram os trabalhadores que o turismo perdeu? Os dados do INE deixam pistas, mostrando quais foram os sectores de atividade no país onde o emprego mais aumentou entre o segundo trimestre de 2019 e o mesmo período deste ano. A lista é encabeçada pelas “Atividades de informação e de comunicação”, com um aumento de 63,7 mil empregos.

Segue-se a “Administração Pública e Defesa; Segurança Social obrigatória”, com mais 50,1 mil postos de trabalho, as “Atividades de saúde humana e apoio social”, com uma subida de 43 mil  empregos, a “Educação”, com mais 42,1 mil pessoas, e as “Atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares”, que somam mais 41,6 mil empregos. 

NÚMEROS

5,7% foi o valor da taxa de desemprego em Portugal no segundo trimestre deste ano. É o mais baixo desde, pelo menos, 2011

298,8 mil pessoas estavam desempregadas em Portugal no segundo trimestre deste ano. Mais uma vez, é o valor mais baixo desde, pelo menos, 2011

50,9% dos desempregados encontravam-se nessa condição há 12 ou mais meses. Ou seja, eram desempregados de longa duração. São mais 6,2 pontos percentuais do que no segundo trimestre  de 2021



OUTRAS NOTÍCIAS
Espanha - Telefónica fracassa na semana laboral de quatro dias

Espanha - Telefónica fracassa na semana laboral de quatro dias


A primeira experiência de implantação da semana laboral de quatro dias numa grande empresa espanhola resultou frustrada. Apenas 2% do quadro de efetivos da Telefónica respon...

Contratações tecnológicas ‘arrefecem’, mas Portugal resiste

Contratações tecnológicas ‘arrefecem’, mas Portugal resiste


Nem tudo são boas notícias para os profissionais das tecnologias de informação. Depois de dois anos a beneficiar do forte crescimento que a pandemia trouxe ao sector, com u...

“Não podem ser só as pessoas à beira da reforma a tomar decisões sobre pensões”

“Não podem ser só as pessoas à beira da reforma a tomar decisões sobre pensões”


Mariana Trigo Pereira foi nomeada coordenadora do grupo de peritos que vai analisar a sustentabilidade financeira da Segurança Social e do sistema de pensões. A equipa ainda não e...



DEIXE O SEU COMENTÁRIO





ÚLTIMOS EMPREGOS